Em meio ao contexto de felicidade que devia estar vivendo e dizendo fazer parte, desenvolvo de forma desconexa um enviesado sentimento tristonho e antagônico a tudo aquilo que devia viver.
Não sei se os colegas são capazes de se sentir infeliz quando todas as coisas parecem estar no devido lugar. Sinto-me um deslocado. Um objeto amarelo em um quarto vermelho. Não sei dos meus objetivos e do que fazer. Os meus planos não fazem mais sentido e o sentido que minha vida um dia fez já não se explica por si só.
Em alguns momentos não consigo entender o que sinto, por que sinto ou por que não sinto. É um defeito meu tentar entender tudo. E é, e sinto por isso, um desalento total não saber responder tantas perguntas.
Não consigo mais controlar meus sentimentos. Fico alheio ao que acontece e me estarreço em meio a coisas que não sei lidar. Não sei lidar com você. Com o que faz, como faz e como se portam as pessoas.
Tenho uma cabeça diferente, uma postura arcaica, uma cabeça pensante que não faz o sentido natural. E pra mim não faz sentido tudo que a todos se parece algo normal. Alegre e triste. Feliz e desalentado. Revés dos sentimentos antagônicos. Uma mistura de pomar com chama. De limão com chantilly que do sabor não se sabe bom ou ruim.
Em poucos minutos a felicidade que transborda se transforma em lágrima. O sorriso vira silêncio e a fala tão bem posta de palavras soantes se torna um emaranhado de espinhos em um corpo feito de veludo.
Não quero abrir minha boca, cantarolar palavras. Mas solto essas palavras nos dedos, nos bits desse arquivo de papel fictício. Às vezes penso que minha vida por si só é fictícia. Não sei nem dizer se finjo o que sinto ou se sinto tanto que não sei descompassar, dividir, separar e viver cada coisa aos poucos, no seu devido lugar.
Não quero conversar. Não quero perguntas. Quero paz. Embora não faça a menor idéia de como obtê-la. Não sei se estar sozinho trará meus pensamentos de volta ao lugar ou se esquecê-los com um sorriso será um melhor remédio.
Sinto ferir os que gosto. Sou tão chato e desconcertante quando assim. É um mal bocado saber usar as palavras mais ameno-ácidas com as pessoas que seu coração quer zelar. É um mal bocado entender cada um tão bem a ponto de saber exatamente onde feri-lo e fazê-lo por total desconcentração e inconseqüência imatura.
Engolir. Engolir ao seco. Engolir. Abafar, ater, suplantar, amenizar, absorver. Ser um ser sacola. Uma cabeça de almofada, um olhar curvado, para não ver o que incomoda e o que não te faz em paz. Ter medo de não ser suficiente. Não fazer o certo. Não ser bom o bastante. E quem sabe nem ser nada, nem mesmo nada de bom.
Pode parecer absurdo ou um drama completo, mas acho tão difícil ser eu e lhes digo isso com toda a sinceridade que tenho.
Nota: se você não sabe o que significa anacrônico.
Nota: se você não sabe o que significa anacrônico.
Emílio Palote escrito.
ResponderExcluirA tanto tempo não aparecia por aqui, e as vezes parece até coisa de destino, porque, quando resolvo vir, leio algo que consegue descrever exatamente o que tenho vivido...
ResponderExcluirK!