21:35
Definhava por te esperar esta noite.
Não me agüentava em mim.
Minha alma, meu ego e meu amor
Transpunham a barreira do real.
Já não sabia dizer se era uma ficção.
Mexias comigo como nenhuma outra.
Não sei o que tens
De especial.
Seus olhos eu não sei descrever.
Eles mudam de cor, seu cheiro muda.
Você muda.
É tão estranho.
Olhei o relógio várias vezes.
Me diz onde você está?
Não vou te telefonar,
É um erro buscar você:
Borboleta do meu jardim.
Desconheço suas vontades
Seus alardes.
O que realmente te faz feliz.
A porta bateu,
Junto, meu coração.
Não, não era ela.
Nunca é ela.
Quem bateu a porta fui eu.
Sai pela noite, cheirando o céu.
A relva estava fria.
O pouco do muito orvalho da noite
Molhava o bico dos meus sapatos.
O luar talhava meu rosto em meio tom de luz.
Não há muito que ver em mim.
Não sou sentimental.
Meu bom senso vai contra
As fatalidades do amor.
Não me atenho a ti.
Mas tremi está noite.
Como disse, sai à porta.
Te procurei.
Na verdade sabia que não a encontraria.
Mas, ao contrário de todas às vezes da minha vida,
Acreditei no destino.
Quando a lua brilhou de vez,
Sentei em uma pedra,
Procurei você no céu.
Na verdade você sumiu,
Minha esperança desfaleceu.
Não corro atrás de ti,
Já disse.
Meu amor é muito mal tratado.
Ou talvez nunca dedicasse amor.
Fato é que enquanto andava,
Algumas lágrimas quase caíram.
Não sei se por tua causa,
Por tua falta.
Meu coração bateu sereno
Por essa noite.
As horas mal passaram.
Contei as pedras que pisei ao caminhar,
Os vãos da terra...
Eles enterrariam cada pedaço de mim,
Aos poucos...
Perdidos...
Desfalecidos,
Injuntáveis.
Nunca pensei que viria a ser seu servo
De alma, coração e amor.
Mas sou ainda mais racional que pareço.
Caminhei a noite toda.
Olhando o céu, o horizonte
E seu semblante escuro de nuvens
Que um dia cairão em chuva
Num canto do mundo
Levarão as lágrimas
Que de mim não caíram por ti
Naquele chão,
Naquela noite.
Não mereceria meu choro.
Pensava assim, mas foi difícil contê-lo.
Respirei fundo por várias vezes.
Solucei,
Aspirei fundo.
Guardei pra mim o ar do mundo.
Guardei o mundo pra mim,
Ao menos parte dele,
Naquele respiro.
Mas não senti seu cheiro.
Creio que busquei você a noite inteira.
Por isso andei,
Tanto...
Minha barriga esfriou.
Talvez fosse o tempo.
Minha mão como sempre fria, gelada.
Não posso afirmar sobre meu coração.
Roí as unhas,
Avancei sobre os dedos.
Não costumo ser assim.
Meu olho embaçou,
Meu ego enfraqueceu,
Meus ombros pesaram em mim...
Respirei fundo.
Não...
Não vou chorar por ti.
Parabéns, Emílio!!
ResponderExcluirConhece o poeta Paulo Leminski
http://www.youtube.com/watch?v=QZU-5UxhMhU&feature=player_embedded#!
=(
ResponderExcluirmas que delícia de poema! :)
ResponderExcluirainda mais quando se identifica tão intensamente com o descrito!
ai ai, dor do amor não correspondido... :(
Vontade de sair andando por ai, atoa, recitando esse poema...
ResponderExcluirVocê tem O Dom.
ResponderExcluirPra quem nunca teve que sair caminhando sem destino pra não chorar, esse poema é perfeito pra descrever as sensações...
ResponderExcluirNão
Não vou chorar por ti.
K