Crônicas de Dias Atípicos...(Dia no parque)

Dia no parque


Considerar ir no parque com 19 anos de idade é algo engraçado. Creio que a maioria das pessoas normais vai aos parques quando ainda são pequenas. Pois bem. Eu e mais algumas pessoas vamos ao parque com a idade um pouco avançada.

Cheguei atrasado. Por sinal não tenho conseguido cumprir bem horários ultimamente. E grande parte das vezes me esforço. Fomos eu e meu irmão de carro. De carro. Isso significa que eu paguei estacionamento e fiz com que a economia se movimentasse em uma época de crise econômica. Eu sou um anjo.

Ainda não entendo porque um shopping center lhe cobra estacionamento. Todos eles se localizam em um lugar onde não existe nada mais pra se fazer a não ser ir no Shopping. Além disso você não vai à um shopping estacionar seu carro. E eles te cobram por isso. Acho mais que justo uma revolução. Mas a época das revoluções acabou.

Mas cheguei ao parque. Quando estava entrando no estacionamento a Alice me ligou. Lógico perguntando o típico: “você chegou?”. Acho que a resposta era sim. Me dirigi, com meu irmão, até a porta do parque. Alguns tempo depois chegaram Alice e fhé (ou Camila; apesar de usar o apelido, desconheço qualquer relação dele com o nome).

Sentamos em algum lugar para esperar o resto da “galera”. Daí a amiga da senhorita Alice veio a pousar sobre aquele antro do consumismo capitalista. Acho que somos todos agora.

Entramos. Mas devo fazer algumas considerações relativas ao fato de entrar em um parque e como entrei naquele específico dia.

Primeiro. Quando abri minha carteira descobri que não estava com a minha carteirinha de estudante. Isso significava que além do estacionamento eu ia ter que pagar o dobro pelo dito passaporte de entrada do parque. Porém usei de todo meu brasileiríssimo jeitinho para passar com minha identidade e um cartão de tabela de senhas para acesso ao site da Faculdade.

Segundo. Alice também não tinha carteirinha. Então ela passou com uma carteirinha da Camila, com foto da Camila. Aqui cabem algumas considerações relevantes. Descrição da Camila: Cabelo liso – não totalmente, castanho escuro pra preto, caucasiana magra, rosto um pouco afinado e um pouco mais alta que Alice. Descrição de Alice: Cabelo liso escuro, morena clarinha, bem menos magra que a Camila e rosto mais arredondado. Quando as duas entraram com a carteirinha da mesma pessoa eu realmente considerei o fato de que eu conheço a mesma pessoa duas vezes de forma diferente.
Pois bem. Entramos.

“Vamos naquele?”
Descrição de naquele: circunferência de cadeiras móveis interligadas a uma haste metálica de grande comprimento no qual os passageiros irão girar em torno do eixo da circunferência de cadeiras e simultaneamente em volta do ponto fixo da haste metálica de grande comprimento. A essa geringonça dá-se o nome de Evolution.
Quando a idéia de ir no Evolution foi cogitada eu lembrei de todas as sensações lindas e excelentes que eu senti na única e primeira vez que fui ao brinquedo: sensação de morte eminente, taquicardia, respiração acelerada e vontade de ver minha mãe. Jurei pra mim nesse dia que não voltava. E não voltei.

Às vezes as pessoas perguntam o que uma pessoa com medo de altura vai fazer no parque. Creio que a resposta é se divertir. Porém vendo como várias pessoas normais vão morrer, ao contrário de você, bundão, que esta aqui no chão. Afinal o medo é um instinto de sobrevivência e algo completamente psicológico. Meu psicológico é fraquíssimo.

Porém, inventei de ir numa montanha russa. Três vezes. Errar é humano. Errar pela segunda vez pode ser considerado descuido. Errar pela terceira vez não é burrice. Chama-se experiência e daria um ótimo “power point” sobre motivação pessoal, tipo “Vi, vivi e venci”. Me perguntei dezenas de vezes o que faz o homem criar fibra ótica, computador, LEDs, Televisões, celulares e máquinas de sensação de morte eminente. É um gosto meio sádico não é? E eu não falei sobre armas.

Pois bem. Afinal, voltei a me sentir seguro no bate-bate. Lógico que era muito mais interessante se sentir motorista quando você não era. Hoje, com carteira, um bate-bate no anel rodoviário seria mais excitante. Acho que estamos voltando ao sadismo. Pulemos então.

O parque de diversões como um vomitódromo. É assim que eu vejo o parque. Ainda lembro da menina que saiu da montanha russa vomitando enquanto estávamos na fila pela terceira vez. Não contente de vomitar no chão em meio a um local público ela caminhava em direção as pessoas enquanto vomitava. Uma cena apreciável aos sádicos.
O dia me trouxe algumas fundamentações teóricas. Pude comprovar os princípios de conservação da quantidade de movimento rotacional nos brinquedos que giram. Murph realmente atua, pois paguei o estacionamento quinze minutos depois de acabar a promoção. A genética intrínseca da não diversão num parque de diversões se manifestou no meu irmão, fomos adotados juntos no mesmo buraco com o intervalo de sete anos. Murph mais uma vez.

Brinquedo que mais gostei: Trem fantasma, Thriller ou algo assim. Apesar de não aparecer o Michael fazendo Moonwalk, o brinquedo era fabuloso. A tentativa de assustar as pessoas era tão ridícula que o passeio de 10 segundos em um carrinho tosco se fez mais perigoso pelo maquinista maluco do que pelos próprios “atrativos” do brinquedo. O senhor tinha por diversão frear e andar com o carrinho de forma randômica aleatória. Doeu algumas vezes.