Texto em Prosa...(Condição)

Condição



Existe alguma coisa errada em minha cabeça. Algo aqui dentro fala comigo como se quisesse tomar o controle. E fato é que o controle tenho perdido. Meu peito já não respira tão fundo quanto eu quero e as margens dos meus olhos se umedecem sem que seja de meu agrado ou de minha vontade.

Meus dedos vêm tremendo mais e os pensamentos, antes quase que ininterruptos, têm dado lugar ao ociosismo, a lentidão e as lágrimas. Sou, pois, como uma base de gesso. Em vista: forte. De certo fraca ao tocar. Sinto que meus sentimentos estão voláteis e dessa vez nem o amor tem me curado. Qual amor?

A ponta de uma faca rasga meu cérebro continuamente esses dias. Cada nova notícia má que recebo regaça mais minhas pálpebras que já não sentem nada há vinte dias. Sem dormir, sem ler e sem desempenhar função justa, codifiquei minha tristeza em uma face carrancuda, frases sem coesão, raciocínios confusos e notas baixas.

E não consigo reverter. Como minhas pernas, minha cabeça já não me obedece em suma. Sou flashes de lembranças infantis. Me vejo criança que quer colo, abraço e compaixão. Mas minha vida adulta não pára um instante para que eu respire, para que receba colo, para que eu possa retornar e retomar o controle.

Pois tenho me afogado mais e mais e ninguém me busca, pois não dou alardes. Temo estar em um limiar novo da lucidez. Limiar esse que desconheço e não sei se saberei contorná-lo, como já fiz tantas vezes.

E vivo em pesadelos. Não tenho sonho. O som irritante do despertador fatia meus neurônios. Estou promiscuo. Sem razão. Não me tire a única coisa que me faz manter a vida: a razão. Sem ela perco tudo. A única coisa que conquistei em todo esse tempo sem fé, sem amor e sem glória. Não me leve pro abismo. Tenho medo de altura e não sei escalar.

Comentários

  1. Essa prosa me trouxe lembranças bem nítidas do ano passado, extamente dessaépoca do ano passado...

    K

    ResponderExcluir

Postar um comentário